Esperemos que gostem.
E já sabem: comentem, a Tina agradece.
Abandoned
30º Capítulo
Não demorei mais do que dois minutos a aparelhar Gingret. De inicio, estava a pensar em montar Perséfone e levar Allegra, uma égua baixinha e a mais calma e fácil de montar da Casa da Noite atrás, com Afrodite em cima dela, pois sabia que Allegra me iria seguir, mas agora Peséfone estava a contorcer-se com cólicas e Allegra estava assustada na sua boxe, que infelizmente ficava nos estábulos para onde Lenóbia se iria dirigir de imediato, então nós apenas tínhamos como opção ir ambas montadas no mesmo cavalo, naquele que não estava nos estábulos.
Claro que ia ser esquisito montar aquela égua, ainda por cima sem sela (não podia pôr uma pois não cabíamos as duas), mas que opções me restavam? Nenhumas.
Por isso, tirei Gingret da boxe, e conduzi-a através de um caminho longo, o único que podia usar se não queria ser vista.
Pedi a Afrodite que me ajudasse a subir, o que ela só fez após muitos resmungos, e agarrei na mão dela para que pudesse subir também.
Só naquele momento (à porta da escola) é que me dei conta do tamanho e beleza da égua: Alta, muitíssimo alta, o pelo de um tom laranja suave, e toda a sua estrutura faziam dela uma das éguas mais aterradoras e belas que já tinha visto, o que me fez sentir pequena por estar a montar algo tão grande e gigante por estar em sobre algo que de si já transmitia tanto respeito, ambas ao mesmo tempo.
Nesse momento invoquei o ar, equilibrando duas correntes de ar debaixo dos nossos pés, para me dar a sensação de que eu tinha uns estribos postos, e para dar a Afrodite a sensação de que tinha algo de baixo dos pés. Coitadita da miúda, agarrava-se firmemente à minha cintura e já tinha os olhos fechados, e embora vê-la assim aterrorizada me desse um certo prazer, tinha uma certa pena –obviamente, depois desse momento arrependi-me, quando mais tarde ela voltou a ser uma cabra (megera do inferno).
Ferrei os calcanhares em Gingret, tentando fazê-la perceber que se devia deitar logo num galope estonteante. E ela deitou, era uma égua de competição e parecia ter percebido a minha urgência.
Afrodite soltou um guincho e apertou-me tanto a cintura que me deu vómitos. Nessa altura lamentei ter bebido tanta coca-cola –e por acaso só agora me lembrava que me esquecera de beber a que já estava a meio, com a pressa de sair dos estábulos.
Continuamos a galopar por vielas sombrias e desertas.
Subitamente, Gingret deu um safanão e derrapou no chão, que estava muito molhado devido à neve derretida. Afrodite soltou um grito de pavor e eu tive de me agarrar à crina para não cair para o lado. Invoquei rapidamente o fogo, para que nos secasse o caminho.
Depois disso, Gingret apenas galopou, esvoaçante, em direcção ao deposito.
Desci de cima dela. Não a podia deixar ir –as pessoas iam perceber se vissem um cavalo regressar sozinho para casa que algo não estava bem – mas mantê-la lá seria muito mais arriscado.
Não tive melhor solução do que leva-la para longe e amarra-la a qualquer coisa, fiz-lhe umas festas e regressei para junto de Afrodite, que ainda tremia um pouco.
Apesar de tudo, olhou para mim sarcasticamente.
-Chamas aquilo um bom transporte?
-Chamo, trouxe-nos aqui mais depressa do que as tuas pernas!
-Independentemente disso, podes ter a certeza de que foi a ultima vez.
-Está bem Afr… -nesse momento tive a sensação de estar a ser seguida, aquela sensação que é tipo um formigueiro na nuca, como se alguém tivesse lá os olhos cravados. Virei-me automaticamente, mas apenas vi a rua sombria e vagamente iluminada pela lua.
-O que foi? –perguntou Afrodite, erguendo uma sobrancelha daquelas que até metia raiva por serem tão perfeitas.
-Nada –abanei a cabeça, como se tentasse que aquela sensação me saísse pelo ouvido –Foi só um arrepio, pensava que estávamos a ser seguidas.
-É bom que não –retorquiu –Era só o que faltava!
-Pois… Era só o que faltava –murmurei, para comigo, voltando a olhar para trás.
-Hum?
-Nada. Vamos?
Soltou um suspiro profundo.
-Claro, vamos meter-nos naqueles túneis nojentos para ir matar uns quantos seres parvos a cheirar a mofo.
-E salvar dois deles.
-Pois, isso também. –massajou as têmporas com os dedos como se lhe doesse a cabeça.
Conduzia pelo mesmo caminho arrepiante da ultima vez, metemo-nos pela tampa de esgoto e fomos dar aos túneis de pedra sombrios.
Havia logo uma bifurcação.
-Fazes ideia por onde é que havemos de ir? –perguntou Afrodite.
-Tenho ideia que era para a direita… Dá-me um segundo.
Concentrei-me por uns momentos na terra, e depois murmurei as palavras que a trariam a mim.
-Terra antiga que deixa germinar, germina agora a nossos pés e mostra-nos o caminho. Eu te invoco, Terra.
Olhei para baixo, onde esperava ver florinhas a germinar, mas não apareceu nada.
Afrodite riu-se cinicamente.
-É a isto que chamas o teu grande poder? Acho que é melhor devolveres, está com defeito!
Revirei os olhos, mas foi quando eles estavam virados para cima que me apercebi.
-Pelos vistos até nem está! Experimenta olhar para cima!
Ela olhou, assim como eu. Um carreiro de uma erva trepadeira qualquer estava marcado, pronto para indicar o caminho.
-Direita
-Esquerda
Dissemos ambas ao mesmo tempo. Olhemo-nos, e para os respectivos caminhos traçados.
-Afrodite, não gozes, não está ai nada!
-Não achas que podias deixar a infantilidade de lado? Claro que está aqui, vês! –apontou para o tecto, para um bocado de rocha maciça.
-Não, não vejo! Olha Afrodite, não tenho tempo para ti! Anda se fazes favor!
-Não percebes mesmo, pois não? –perguntou Afrodite – Isto é mais que obvio!
-O quê?
-Que ambas vemos caminhos diferentes! Foi feito assim. A Terra mostrou-te o teu caminho, e mostrou-me o meu a mim, agora vamos ter de nos separar.
Até fazia sentido.
-OK, faz isso. Assim que conseguires alguma coisa (se conseguires) ou quando tiveres acabado de fazer o que quer que seja, vem ter aqui, e fica à minha espera, a não ser que já cá esteja eu à tua.
-Tudo bem.
Virou e começou a galgar o corredor, mas depois virou-se para trás, como se tivesse acabado de tomar uma decisão.
-Ah! E boa sorte!
Sorri-lhe.
-Para tu também!
(Próximo Capítulo: quinta-feira, ás 16 horas)
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