- Disse-te para não vires. – tentei parecer normal, e não dar o ar de quem está furiosa, que até se podia sentir fogo dentro de mim… raios… EU ESTAVA EM FOGO. Tinha chamas nas mãos a subirem para os braços, umas labaredas pequenas a crescerem-me dos pés e os olhos a crepitar.
- Também disseste que o Loren te amava e foi o que se viu. – respondeu.
- Não fales nele. – a minha resposta soou rápida e seca de mais. Ainda não conseguira apagar o fogo em mim. Estava demasiado furiosa.
- Hei, estás assim com tanto frio?
- Não – respondi-lhe a comprimir os lábios para esconder lágrimas e gritos presos na minha garganta.
- Zoey, o que é que se passa? – perguntou-me, pondo-se à minha frente para me impedir de avançar. Não resisti. Deixei que me caíssem lágrimas da cara por saber que a minha mãe estava a ser traída. O fogo cessou nesse momento e eu encostei-me a Erik, a soluçar
- Zoey, pronto, o que quer que tenha acontecido, já passou. Tem calma – pegou no meu queixo e levantou-o para que eu olhasse para ele – Já passou, Z.
- Não, não passou! – gritei a soluçar – Está a acontecer e vai continuar até não sei quando! Não consigo aguentar isto! Raios!
- Anda lá Zoey, vamos para o dormitório para te acalmares – pôs a mão por cima do meu ombro e levou-me até ao dormitório.
Senti que estava pálida como a neve (eu e as minhas comparações). Funguei e limpei as lágrimas ao lenço que Erik me dera no caminho.
- Hei, Zoey, o que é que se passou? – Jack correu para mim.
- Zoey estás bem? – perguntou Damien levantando-se.
- Z, vá lá senta-te que eu vou-te buscar um copo de água com açúcar.
- Pois, estás com má cara… - Shaunee acrescentou à deixa de Erin.
- Obrigada, gente. – disse sentando-me, aliviada por não ter caído.
Deixei o choque da notícia recente assimilar-se e perguntei a mim mesma se lhes devia contar do que vira. Senti um murro no estômago que até senti vontade de vomitar. Okay, estar calada. Deduzi eu, ainda a tirar a cara de enjoada.
Bebi o copo de água com açúcar que Erin me trouxera e encarei o meu grupo, que me olhava ansiosos por respostas.
- O quê? Tenho uma lagartixa no cabelo? – disse, feita tolinha, a apalpar o cabelo.
- Z, não brinques. – disse Jack. O miúdo ficava giro todo sério.
- Pois, nem tentes – concordou Damien
- Vá, são horas de nos dizeres o que se passou.
- Não foi nada. – disse-lhes
- Zoey, como é que podes dizer que não foi nada se eu próprio te vi em chamas, que até parecia que ias dar cabo de alguém, num estilo do Tocha Humana? – perguntou-me Erik. Era mesmo um cromo de filmes.
- Nunca faria isso! – apesar de já o ter feito… Pensei - E quando digo que não foi nada é porque não foi mesmo nada! – levantei-me e fui para o meu quarto.
Peguei no telemóvel e liguei a Stevie Rae. Hoje era véspera de ano novo, talvez ela conseguisse vir cá, já que já não havia sortilégio nenhum.
- Stevie Rae!
- Hei, Zoey! Tudo bem? Estava mesmo para te ligar. É véspera de ano novo, porque não estás a festejar?
- Pois… – disse-lhe – lá em baixo há grande farra, mas eu não estou com disposição para isso… Está tudo com cervejas na mão, apitos daqueles que ensurdecem e assim... se tivesse sido um dia normal eu estava lá… - descrevi eu agora a pensar na festa que se fazia lá em baixo na sala de convívio, no que eu reparara enquanto saía em chamas do gabinete de Neferet, mas ao qual não prestara grande atenção
- Então, Z, que se passou?
- Foi… Eu… eu ia para o gabinete de Neferet, para lhe perguntar a razão de Erik ainda cá estar, e Afrodite também… e… eu vi o Jonh a ir ter com ela… depois foram para o quarto dela e… a coisa deu-se… Ele anda a trair a minha mãe com a Neferet e ao mesmo tempo a matar vampyros.
- Que mazinha a situação…Mas tens a certeza de que é mesmo ele que os anda a matar? – Stevie Rae perguntou-me preocupada.
- Acho que sim… Tenho a sensação de que há algo errado… e… tentei não crer, mas… penso que vi uma faca (mesmo afiada e com sangue) dentro dum saco que ele tinha na mão. Senti-lhe o cheiro e não era igual… tinham uma ligeira diferença…
- Bem, fofinha, vou tentar ir aí…mas tenho de me ir embora antes do amanhecer.
- Que bom Stevie Rae! – disse-lhe.
Desligámos a chamada.
- Então é por isso que estavas a arder?
Guinchei e saltei da minha cama. Eu estava de costas para a porta pelo que não reparei quando o Erik entrou.
- Erik! O que é que estás aqui a fazer? – perguntei-lhe… O que será que ele tinha ouvido?
- Bem… Vim ver como estavas e ouvi a tua conversa com a Stevie Rae.
- Porque é que ficaste a ouvir? – perguntei-lhe num sussurro.
- Não sei. Fiquei apenas. – olhei os seus olhos azuis e contemplei o seu cabelo preto perfeito. Ele era tão fofo.
- Hum… - respondi-lhe
Fui até à casa de banho retocar a maquilhagem, que devia estar toda esborratada do choro e dei um jeito ao cabelo. Saí e Erik ainda estava no meu quarto.
- Ainda estás aqui? – pronto, não queria ser desagradável, mas naquele momento só precisava do meu espaço. Depois iria ter com a Stevie Rae, ela reconfortava-me, eu vinha com ela para ao pé do meu grupo, eles matavam saudades, fazíamos uma grande algazarra de ano novo por persistência das Gémeas e da Stevie Rae, depois ela ia-se embora, eu dava uma desculpa do género “estou cansada”, subia para o meu quarto e deitava-me, quando estava quase a adormecer o Heath mandava-me uma mensagem, falávamos, depois eu deixava-me dormir, as Gémeas vinham acordar-me, eu lembrava-me do Jonh, ia falar com a Neferet, e assim vivia o meu dia. Mas não. Não tinha o meu espaço agora.
- Se queres que me vá embora eu vou, pronto… - levantou-se da minha cama, levantou os braços e dirigiu-se para a porta.
- Não. Espera. – agarrei-o no braço – desculpa, mas tu sabes o que se passou… não… não sei que fazer, e neste momento preciso do meu espaço… Só queria que tudo voltasse a ser normal outra vez…
- Que queres dizer com “normal”?
- Acho que quero dizer quando eu não tinha sido Marcada, quando não me tinha de preocupar com mais nada a não ser o exame de Geometria no dia seguinte e em dar uma tampa a um namorado bêbedo. Tu não tinhas sofrido como sofreste e...
- Se tudo fosse o teu “normal”, tu não tinhas amigos como tens, não te sentias em casa como sentes, e não estavas numa escola em que não tens de te preocupar com exames de Geometria – Erik interrompeu-me.
- Pois… Mas estou farta de ser diferente… Sou a Escolhida, e tenho tantas coisas em cima de mim, coisas que não consigo suportar, coisas que tenho de guardar para mim que irão fazer sofrer outros, coisas que me fazem querer desistir…
- Não. Tu és a Escolhida. Sim, tens responsabilidades acrescidas. Não, não vais desistir. Vais continuar a lutar pelo que tens de lutar, ao lado de todos os que têm ajuda para dar porque se desistires, isto não tem sentido. – abriu os braços a indicar a Casa da Noite.
Sorri e abracei-o. – Obrigada Erik… sem vocês não saberia que fazer… Obrigada por estares sempre aqui…
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