- O que é que tu queres? – virei-me para ele e reparei no seu rosto. Estava estranhamente parecido com o de Heath… Bem, não os traços, mas uma certa palidez, olheiras carregados e um ar cansado
- Então, é assim que se trata o teu pai?
- Tu não és nem nunca serás meu pai! Nem deves ser pai de ninguém! Metes nojo!
- Ora, ora, vejam só se não é a minha querida Zoey
- Velha cabeçuda, não me marteles os miolos, que não estou com paciência para aturar os teus dramas de idosa maléfica compulsiva!
- Pois fica sabendo, estúpida criança, que se ousas tocar-me, juro que farei com que pareça acidente
- Não mexas um pêlo, senão fulmino-te, traste – disse sem nunca parar de fitar Neferet. Em silêncio pedi ao fogo que me chegasse à mão e apontei-a na direcção do traste de cocó que ainda se fazia crer meu padrasto, mais, que se fazia crer meu pai – Estou a falar a sério – fechei a mão e a chama intensificou-se
- A nossa Deusa não é de amor? Acho que não quer que o mates
- Pois, sim, velha cadavérica – sim, ela parecia cadavérica, com a cara chupada e uns olhos profundos enraivecidos, fazia-me lembrar uma múmia aterradora – e a ti isso dá-te o direito de matares vampyros?
- Não sabes o que dizes! Não passas de uma estúpida criança ignorante! – vi formar-se o mesmo clarão vermelho que se formou quando eu e Heath saímos dos túneis. Deixei de esticar a mão na direcção da amostra de ser (não me refiro a ser humano, mas sim a ser mesmo uma amostra, e muito reles, como um vírus que devora a espinha e os ossinhos todos) que estava ali a assistir e estiquei ambas na direcção daquela ranhosa, enquanto ela aumentava o clarão nas suas mãos
- Ai as figuras que me fazes passar, isto parece um filme de quinta categoria ‘Toma! Ai é? Já vais ver! Toma, toma, toma!’ …“CAREDO!”– atirei-lhe uma bola de fogo na sua direcção, que a atingiu e a fez cambalear para trás, diminuindo um pouco a luz terrorífica das suas mãos, mas mesmo assim ela conseguiu suster algum fogo no ar e depois atirou-o contra mim. O fogo raspou-me na pele, descontrolado pela maldade dela e queimou-me bem feio o meu braço. Suprimi a vontade que tinha de gritar. Senti-me atordoada enquanto ela se dirigia a mim e me fazia cair e bater com a cara no chão. Perdi levemente os sentidos, pois, apesar de não conseguir falar ou mexer um dedo, ouvia o que se passava e até pude ver Neferet sugar alguma força vital do meu Heath, que se debatia. Ela não podia ter feito isto! Apesar de já não haver impressão entre nós, só eu é que podia beber dele! Mais ninguém! Tentei mexer-me, em vão, ficando assim no sítio até onde ela me arrastara, de olhos abertos e um queimadura no braço. Não conseguia fechar os olhos por mais que tentasse. Senti algumas lágrimas rolarem pela minha face abaixo e caírem no chão. ‘Ar, sopra forte a Neferet para longe de Heath. Fogo, aquece o meu corpo e relaxa-me os músculos, água lava-me de todo o mal que ela me provocou. Terra revitaliza as forças que perdi, e espírito, dai-me movimentos’. Dito (bem, foi mais pensado) e feito, levantei-me dirigi-me a Neferet e preguei-lhe um valente estalo que ecoou durante algum tempo
- Tu não tens o direito de provares o Heath! Ele é só meu! – vi Heath sorrir pelo canto do olho. Apontei o meu indicador junto dela, que estava meio atordoada pela força do meu chapadão – E nem tentes voltar a fazê-lo, sua múmia ambulante sem ligaduras. Isto não fica assim! – Ouvi Heath gemer de dor e soube que tinha de tratar dele. Dirigi-me ao rapaz que estava amarrado à cadeira, mas parei a meio. Pelo seu tronco musculado e de futebolista em óptima forma, via-se um corte de alto a baixo, ainda a sangrar relativamente bem
- Zo… Tira-me daqui! – ele suplicou-me. Não liguei ao quanto me sentia tentada em lhe lamber o corpo ferido e cortei-lhe as cordas que o seguravam nos braços. Mandei os elementos cuidarem de Heath e a laceração ficava cada vez menos aberta até que se fechou, deixando apenas uma cicatriz. Tentei pegar Heath ao colo (que mai’ romântico, não haja dúvida! Tinha acabado de fazer sexo com Erik, e estava com Heath quase ao meu colo). Apenas consegui que ele se apoiasse no meu ombro. Decidi levá-lo para o meu quarto, que até nem era muito longe. Ao entrar no dormitório, senti que todos os olhares se cravaram em nós
Ignorei e continuei a subir as escadas. Um rapaz que estava por ali, ajudou-me a levar Heath para cima
- Obrigada – ela assentiu de depois voltou para junto da rapariga com quem estava. Sentei Heath na minha cama – Heath, ela… aquela cabra de múmia, tem andado a obrigar-te a fazer isto?
- Tem, Zo. Ela diz que se eu não o fizer, ela te magoa!
- Oh Heath, ela não me vai magoar sem sair magoada!
- Isso tem mau aspecto – ele esticou o queixo na direcção do meu braço. Que horror! Carne esturricada!
- Já passa. Queres ver? Vento, sobra tudo o que possa estar de mau nesta ferida, fogo, apesar de me teres causado isto, queima vestígios de possíveis infecções e afugenta a dor. Água, lava a ferida para que esta sare bem – a minha ferida passou que cor de pele esturricada, a quase ter a sua cor normal, mas ainda estava em carne viva – Terra, Tapa esta queimadura com pele nova e jovem, para que não fique marcada. Espírito, renova as células e cura-me desta queimadura – tive a sensação de que devia fazer mais alguma coisa por Heath – Também a ele – disse – E depois podem ir – A cicatriz de Heath ganhou outra forma, já não parecia feia nem deslocada do seu corpinho de macho. Olhei-o dos pés à cabeça
- Oh, santa Deusa! Atirem-me com um pato para cima!
- Zo, que foi isso agora?
- Hã?
- ‘Atirem-me com um pato para cima?’
- Desculpa, tenho fome. – apressei-me a centrar o meu espelho em Heath
- Zo! Finalmente! Agora somos iguais! Já não há nada que nos separe! – ele veio até mim e abraçou-me. Pronto, deixa ver, eu curei Heath, curei-me a mim, dera um valente estalo a Neferet e uma Marca apareceu na testa de Heath. Ainda estava por preencher, mas ficava-lhe incrivelmente bem.
- Zoey? Ouvimos-te dizer que te atirassem um pato para cima quando íamos a passar… - Shaunee enfiou a cabeça no meu quarto
- E pensámos que talvez precisasse de ajuda – disse Erin, fazendo o mesmo gesto
- E olha que esse corpinho que está agarrado ao teu é bem mai’ lindo que esperava – Shaunee ergueu as sobrancelhas
- E… Oh Deusa! Ele tem uma Marca! – disseram as duas em coro
- Pelos visto eu e a minha Zo agora somos iguais
- Heath, não quero discutir, mas já não sou a tua Zo, sou só a Zo, ou Z ou Zoey
- Pronto, achas que isto precisa de alguma coisa? – ele olhou para o seu tronco, na direcção da cicatriz que o atravessava de alto a baixo, como se tivesse sido operado…
- Hum… talvez, mas não vamos chamar a múmia para te curar! Ela fez-te isto e bebeu de ti e ninguém te faz isso! Só eu… – sussurrei esta última parte. Ele sorriu
Senti-me imensamente irritada com a ideia de Neferet beber de Heath, ninguém tem o direito de beber dele! É só meu! (credo, parecia um predador a falar da sua presa…)
- Estás a falar da Neferet?
- Não, estou a falar do banho em água de rosas… Claro que estou a falar dela! E entrem lá! Vento, chama o Damien – senti um sopro de ar a sair do quarto e uns minutos depois Damien apareceu no nosso quarto com Jack
- Oh valha-me a santa Deusa! – Jack levou a mão à boca ao ver a cicatriz de Heath, a sua Marca e a minha queimadura
- Vá, não é assim tão mau! Vês?, já não está em carne viva
- Z, como é que isto aconteceu?
- Bolas! O traste! – bem, sabia que a Neferet andava a fazer o mesmo que fez ao Heath, e estava na dúvida sobre salvar Jonh ou deixá-lo com ela. Mas o mais certo era ajudá-lo – tratem do Heath, levem-no à enfermaria, mas não chamem a Neferet, e digam ao Erik que preciso de falar com ele, URGENTMENTE. Eu vou salvar o estúpido do meu padrasto – Saí a correr do quarto, desci as escadas dois a dois e voltei a correr para o gabinete da Neferet
- Zoey, voltaste, queres um bocadinho? – pronto, estava com sérias dúvidas sobre o que Neferet era. Ela estava a beber de Jonh e quando me disse aquelas palavras estava a rosnar, e a ‘convidar-me’ para beber dele. Bem, não posso dizer que não cheirava bem, porque o cheiro docinho a sangue é óptimo (apesar de ser óptimo é nojento pensar nisso)
- Oh, credo, velha ranhosa, já nem pareces viva. Vá deixa lá de rosnar e larga o Jonh que apesar de eu o odiar, a minha mãe gosta dele
- Linda! – gritou Jonh ao ouvir-me dizer mãe
- Pois, pois, agora passando à frente, deixa-o lá em paz e em vez de morderes outros morde o teu rabo – cheguei-me a Neferet que me rosnou, mas não liguei, ela parecia mesmo um animal selvagem descontrolado, por isso agarrei-a pela nuca e levantei-a. Fiz com que ela andasse para a frente um bocado de maneira a não se chagar ao pé de nós
- Zoey, larga-o, ele é meu!
- Ai que nojo!!!!! Achas mesmo que eu ia beber dele? Só se fosse para vomitar e me atirar duma ponte a seguir! E o Heath é meu! E já agora, tem uma Marca
- Quê? Esse humano agora é um de nós? Não pode ser!
- Não é um de nós vindo da tua boca, é um de nós vindo da minha, raios, velha, tu já nem sabes o que és quanto mais eu, agora mantêm-te sossegadinha para eu levar este aqui à enfermaria – ela rosnou-me e vi-a atirar-se a mim. Num gesto que eu não tive tempo para pensar nele dei-lhe um soco, fazendo-a voltar para trás.
- Sossegada! Ou isto vai mais além que um soco!
- Não tenho medo de ti, criança!
- E eu não costumo bater em velhas, mas tu és diferente, um caso aparte. Terra, prende-a aqui até eu voltar! – vi brotarem do chão umas lianas que a amarraram com força
Segui até ao fundo do corredor e enfiei Jonh lá para dentro. Estava lá o meu grupo de amigos, menos Chad e Samantha.
- Hum… Ele também precisa de ser tratado, eu depois levo-o a casa. Agora vou conversar com uma velha ordinária – eles assentiram e eu virei-me
- Zo, em cuidado, e depois passa aqui, por causa da queimadura
- Está bem Heath – Fechei a porta ao pé de mim e fui outra vez até ao gabinete de Neferet. Paralisei quando a vi a suplicar por ajuda, já não rosnava nem parecia cadavérica. O vede musgo dos olhos dela estavam suplicantes enquanto ela se debatia com as lianas – Terra podes ir, obrigada – as lianas desapareceram no chão e Neferet sentou-se pesadamente
- Zoey! Tu não devias ter visto nada!
- Ai sim? Olha por momentos até pensei que estivesses possuída ou assim, mas a verdade é que não sinto pena de ti, velha. E se estás a pensar em matar-me, pensa melhor, sugares o sangue a dois humanos, para que eles se tornassem na espécie de mortos vivos que eram os iniciados vermelhos e faze-los ficar meio vampyros é muito baixo. Metes nojo! Porque é que fazes isto? Achas que é o que Nyx quer?
- Já não quero saber de Nyx. – virei-lhe as costas e fui até à enfermaria
4 comentários:
wow!!!! ta um espectaculo!!! muito bom mesmo!!!
Perfeito! Continua a escrever :-)
nao devia ja ter sido postado o outro capitulo??? oque aconteceu?
O capitulo foi postado, houve um erro de sistema, lamento!
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