Capítulo 3
Savanna Miller – Tenho de parar de me babar quando olho para rapazes giros…
-Achas correcto? Sabes que ela pode… - ouvi alguém murmurar. Parecia estar a cerca de meio metro de mim.
-Não! – cortou outra voz, apressadamente – Eu acho que tu talvez possas…
Mas essa voz interrompeu-se, quando eu me mexi levemente e depois, devagar, levei a mão à testa.
Não a conseguia sentir, mas sabia que estava ali, brilhante e perfeita e odiosa, uma meia lua tatuada e de um azul lindíssimo… Ou pelo menos um esboço de uma. Ainda me era estranho o facto de não ter ficado assustada, ou pelo menos quase nada, quando Neferet – a quem pertencia a segunda voz – me abordara, vinda do meio das sombras de uma cidade transformada em cemitério, espantara um pássaro gigante e me falara naturalmente sobre o sitio onde me encontrava e o porquê de ele estar assim… Na altura, parecia que alguém me dera um comprimido que bloqueava o choque, a surpresa, o medo e a ansiedade no meu cérebro, não me deixando sentir mais do que alivio – por estar viva -, felicidade – por não estar a ser comida viva -, conforto – por ter por perto alguém responsável que me levaria para um sitio normal (ou pelo menos, parcialmente normal) – e tristeza – por tudo o que tinha acontecido. No entanto, agora que o efeito do comprimido passara, eu estava mortinha de medo e praticamente a tremer.
- Oh, acordas-te! – o tom de Neferet passara de cortante e sofrido para calmo e caloroso –Espero que tenhas dormido bem.
O facto de não me ter espetado um punhal no coração deixou-me mais aliviada, e a sua voz reconfortante pareceu envolver-me e esquecer o medo e a tristeza.
Entreabri os olhos, dando de caras com uma luz suave à qual não estava habituada, mas que me deixava um certo sentido de conforto… Como se devesse ser mesmo assim. Pelo fresta dos meus olhos, pareceu-me ver algo negro mover-se rapidamente de cima de mim, e os meus olhos voltaram a fechar-se.
-Desculpa – a primeira voz chegou até mim… Não sei como não me tinha apercebido, da primeira vez que a ouvira, o quão sensual, arrepiante, quente, sedutora e macia era… Mas ainda mais impossível era não ter reparado no conforto e suavidade, e na maneira como parecia embalar-me. –Não te queria assustar.
Sentia-me como uma criancinha, agarrada aos cobertores quentes e de olhos fechados pelo medo… Ainda mais ao ouvir aquela voz, tão sensual e quente, a dizer-me que não me queria assustar…
Por isso, abri os olhos, talvez demasiado rapidamente, o que provocou um olhar curioso da parte de Neferet, sentada aos pés da cama e a olhar-me bondosamente.
-Boa noite! – sorriu, parecendo aliviada, mas ao mesmo tempo transmitindo alivio.
Agarrei-me à borda da cama, de forma a pode erguer o corpo entorpecido pelo descanso e assim sentar-me. Os seus olhos não me desfitaram durante o meu longo bocejo e o meu esticar de braços, ao jeito de um espreguiçar, mas mais lento, arrastado e desajeitado.
Foi quando a minha mão roçou em algo macio, como penugem, que levantei os olhos. Primeiro, só vi algo negro e grande, que parecia comprimir-se dentro da sala e tornar confinado o espaço para respirar… Mas depois vi a que é que isto se ligava, e esqueci completamente a negritude que ocupava o quarto.
Tinha e pele perfeita, do género daquela que a Ávene, com imenso Photoshop, atribui às mulheres giríssimas dos seus cartazes, na tentativa de nos impingir mais qualquer coisa… Mas melhor, muito melhor e muito mais bonita. O seu rosto era angelical, o mais belo que já vira… Poderia dizer que era o rosto de um deus, mas isso seria pouco. Aquele deveria ser o rosto do deus mais belo que existia, daquele que nos deveria guiar e conduzir, daquele que teríamos de respeitar sempre. O cabelo negro dava-lhe pelos ombros, envergava umas calças largas caqui e o seu tronco perfeito estava nu… Mesmo com dificuldade, consegui desviar o olhar do seu rosto para o resto do quarto… Para observar a grande massa negra e suave que ali se encontrava… E foi quando percebi: A negritude dentro do quarto eram asas, e estavam ligadas ao anjo que tinha diante de mim…
-Minha querida – murmurou Neferet. Mesmo que ela não fosse tão bonita como ele, invejava-a… Se eu tivesse aquela cara (e aquele corpo) talvez pudesse ficar com ele para mim… Mas a sua voz fez-me esquecer a beleza do homem diante de mim (ou parcialmente, pelo menos) e obrigou-me a olhá-la – Este deus que vez diante de ti é Kalona, a reencarnação de Erebus… Depois do que Nyx nos fez, ele tornou-se a nossa única esperança, e conduzir-nos-à à vingança!
-Vingança? –interroguei.
-Sim – confirmou ela – Muitos de nós foram mortos e feridos, e outros tantos traídos. Não deixaremos isto passar impune. Vamos vingar-nos dos humanos.
Não! Não podíamos fazê-lo! Os humanos… Eram os meus amigos, os meus pais… Porquê matá-los?
-Savanna – neste momento, não me senti surpreendida por saber o meu nome, mas sim encantada por me dirigir palavra… Erebus! O grande, leal e corajoso consorte de Nyx… Que foi? Às vezes eu até tomo atenção às aulas! –Temos de o fazer. A humanidade foi corrompida, em especial por Nyx… E não podemos permitir que um povo tão avançado como o nosso seja tratado abaixo de cão, muito menos pelos humanos! À que tomar o que é nosso por direito… E começar um novo reino… Mas não fiques tão triste, estamos a fazer o que é melhor. O nosso mundo precisa disto. E agora tu fazes parte do nosso mundo… Tens de esquecer a tua vida passada.
-Em especial os teus pais – a voz de Neferet tornou-se fria –Tens de os esquecer a eles. Não podem fazer parte da tua nova vida.
Mas a frieza da sua voz já me passava despercebida. Erebus tinha razão. Neferet tinha razão. Agora eu era superior, e iria juntar-me aos outros para conquistar o que era meu.
Um deus não mentiria nem me poderia levar por caminhos errados, certo?
2 comentários:
Adorei mxm ler!!! Vou ficar á espera pelo proximo episodio :)
Que Nyx te abençõe
Bjx ines
Lindo, muito giro mesmo... Obrigada, mais uma vez xP
Jane
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