Capitulo 8
Joka ligou a Tekas e ao David para irem ter connosco ao refeitório. Ainda não tinha a certeza se contar-lhes sobre o meu “dom” seria boa ideia. Margarida também parecia ir um pouco impaciente com o passo lento com que eu e Joka caminhámos.
-Importas-te de acelerar um pouco?
-Desculpa se nem todas podemos atravessar paredes. - parei e cruzei os braços.
-Eu tenho tido muita paciência com isto tudo. Podias no mínimo ter algum respeito! – passei-me e comecei a fazer gestos impulsivos. Estava a ficar farta disto tudo, eu estava a tentar ajudar e ela ainda se queixava. Senti Joka a puxar-me bruscamente pelo braço.
-Ouve lá, o que pensas que estás a fazer?
-Perdi a paciência de vez, a Margarida estava a…
-Não me interessa o que ela fez, só sei que estão todos a olhar para ti. Ninguém para além de ti a consegue ver lembras-te? – Joka tinha razão, os iniciados que iam a passar no corredor estavam a olhar para mim com cara de parvos. Quase que podia jurar que um deles prenunciou a palavra “anormal” por entre dentes.
-Oh não, desculpa Joka, nem me apercebi. Ela parece tão real, parece mesmo que está aqui ao meu lado. Esqueci-me completamente.
-Na boa, agora controla-te e tenta ter um comportamento normal. – assenti com um aceno. Fizemos o caminho até à cantina num passo lento, desta vez Margarida não disse nada e caminhou ao meu lado permanecendo calada.
Chegámos ao refeitório, levamos tabuleiros com alguma comida e fomo-nos sentar numa mesa no canto do refeitório, para que ninguém tivesse sequer hipótese de ouvir a nossa conversa. Eu estava nervos, tinha feito amigos e não queria que eles ficassem a pensar que eu era uma doida varrida. Joka deu-me uma palmadinha no ombro.
-Não te preocupes, eles vão ajudar-nos.
-Ou vão simplesmente pensar que eu sou uma doida varrida. – Joka revirou os olhos.
-Eles vem aí, agora controla-te. – pois claro, Joka mandava-me ter calma como se fosse a coisa mais simples do mundo.
David e Tekas chegaram e sentaram-se à nossa frente.
-Então? Qual o motivo para tanto drama? –Joka olhou uma ultima vez para mim antes de começar a contar a história toda desde inicio.
***
Estava à espera que tivesse corrido pior, mas os meus amigos não pareceram muito chocados com a minha revelação. Estava à espera que me chamassem de anormal, ou que me quisessem internar num manicómio. Mas não se riram nem interromperam Joka enquanto ela lhes contava tudo.
-Essa Margarida está agora aqui ao pé de ti e tu consegues vê-la? – foi David que quebrou o silêncio, ele era mesmo fantástico. Não questionara a minha sanidade mental nenhuma única vez e acreditara logo em mim.
-Sim, ela está aqui. – olhei para Margarida que estava a olhar para mim com o sobrolho franzido.
-E agora o que vamos fazer? – David e Tekas olharam para mim e Joka.
-Estávamos com esperanças de que nos iam ajudar. Até porque não sabemos se é o único dom da Mariana. As únicas coisas que sabemos são que por alguma razão Nyx lhe deu este dom invulgar.
-Acho que temos de descobrir se a Mariana tem mais algum dom. Que dons conhecemos? – David reflectiu olhando para nós.
-A professora Beatriz tem o dom de curar e de ler o pensamento, A professora Carol tem afinidade com o elemento fogo e o professor Pedro com a água.
-Pois, mas nós não nos podemos basear só nos dons dos professores Tekas. – David falava e apoiava a cabeça com a mão esquerda.
-A professora Beatriz falou de uma iniciada da casa da noite de Tulsa que se chamava Zoey Redbird. A professora disse que ela fora marcada, mas que nesse mesmo dia ficou com a marca completamente preenchida. Pelo que percebi ela tem afinidade com todos os cinco elementos, Nyx parece querer que ela seja a próxima Sumo-Sacerdotisa. Também uma rapariga, Afrodite que tinha visões de catástrofes no futuro. Quando estive na casa da noite de Coimbra tinha uma professora que conseguia ver a personalidade das pessoas, com um simples contacto físico.
-Ena, isso é fixe. – Tekas e Joka pareciam entusiasmadas com a ideia de poder, o que me assustava. Eu não queria ter tais responsabilidades. Nyx deve ter cometido um erro, eu não posso ter sido escolhida para isto. Eu com poderes? Olhei para o lado para ver se Margarida ainda ali estava, podia ser que eu estava mesmo a ficar doida e ela desaparecera. Mas não… Ela ainda ali estava a olhar para mim, com os seus olhos castanhos. Só agora olhei bem para a testa dela, a testa estava com a marca negra, o que me fez lembrar aquele anjo terrivelmente lindo o Kalona que por sua vez me dava arrepios. Comecei a sentir a minha cabeça a latejar.
-Esta tudo bem? - David olhou para mim com um ar preocupado.
- Sim, acho que só estou um pouco cansada. Não dormi quase nada e esta situação está a dar-me a volta à cabeça. Acho que vou para o quarto.
-Espera, tenho que ir falar com a professora Beatriz, aproveito e vou contigo se não te importares. – David levantou-se da cadeira.
-Claro, vamos.
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