CAPÍTULO QUATRO
“Não és humana, pois não? – Esta frase rejubilava dentro da minha cabeça vezes sem conta. Estranhei a princípio porque achei que havia tomado todas as precauções para que não desconfiassem de mim, mas depois…fui mesmo apanhada de surpresa. Cada músculo do meu corpo foi enrijecendo até ficar completamente petrificado, sem se mover um único centímetro. Como é que aquele rapaz sabia? Como?
- Desculpa?! – Murmurei em voz baixa, mantendo a minha compostura. – Deves estar enganado. Ou então, estás com um desvario na cabeça.
Fingi o melhor que pude para que não continuasse a desconfiar. A mesma sensação que me invadira na noite passada e antes de entrar no café voltou a aparecer. Havia alguém naquele lugar que não era normal. Que não era um simples humano. O rapaz continuava a insistir com o olhar inquisidor, o que me causava um certo arrepio. Mas afinal o que é que ele pretendia com aquilo tudo? Já começava a pensar que ele era esquisito. Bem…muita coisa não lhe deve faltar para encaixar naquela categoria.
- Eu quase nunca me engano nestas coisas. – Afirmou em voz baixa, olhando para o meio do vazio. – Aliás, o teu cheiro é diferente do resto dos humanos.
- Tu realmente… - Esperem aí. Ele disse mesmo aquilo que penso que ele disse? – Tu disseste…
- Humanos. – Disse completando aquilo que eu ia dizer. – Sim, foi isso que eu disse.
Só pelo facto de ter usado o termo “humanos”, fez-me desconfiar de quem ele era realmente. Será que aquela sensação se referia àquele rapaz desconhecido? Porém, não deixava de me questionar quem seria ele. Como poderia ter tanta certeza daquilo que dizia era o que mais me intrigava, o que suscitava uma pequena quantidade de curiosidade.
- É melhor continuarmos esta conversa lá fora. – Adverti, jogando pelo seguro.
- Ok.
Deixei a única nota de 1 dólar que tinha à mão em cima da pequena mesa centrada e levantei-me para sair. Ele fizera o mesmo e pôs-se a meu lado, acompanhando-me até à saída. Olhei para ambos os lados para ver se alguém nos revirava um olhar mesquinho como costumavam fazer. Nada. Nada fizeram. Continuaram com as conversas em grupo e nem sequer fizeram caso. Estranho e arrepiante ao mesmo tempo. Estávamos já a meio caminho afastados do Monsuit, deixando-o longe da vista. Ainda que a iluminação na rua fosse pouca, dava para ver bem a estrada que seguia à minha frente. Agora sim podíamos falar sem que ninguém nos incomodasse.
- Olha lá. – Disse, virando-me frente-a-frente para ele. - Não sei quem tu és ou o que é que queres mas podes ter a certeza que se abres a boca em relação àquele assunto que falamos no café, arranco-te os braços à dentada.
- Ouve. Eu não quero arranjar problemas para nenhum de nós. – Disse claramente, metendo as mãos aos bolsos das calças.
Ele podia ser um dos homens do Povo da Fé a tentar enganar-me e a ver se me descaio e diga algo que me denuncie. Mas que nem pense que ia fazer. Nunca.
- Diz lá o que pretendes com isto tudo então. – Respondi friamente.
- Não és a única não-humana por estas bandas. Tem cuidado. Apenas quis avisar-te, só isso. – Disse em forma de suspiro.
Esperem aí. Primeiro, ele insinua que não sou humana (não sou mesmo, de facto. Mas também ainda não uma vampyra adulta. Digamos que estou entre humanidade e sobrenatural. Duas metades de um todo, acho que pode ser a melhor definição para mim.) e agora vem avisar-me para ter cuidado?
- Para começar, eu sei muito bem tratar de mim e não preciso que um desconhecido como tu me venha dizer do que tenho de ter cuidado ou não. – Inspirei relaxadamente e continuei. – E como podes ter tanta certeza de que um não-humano por cá, se é que isso existe?
Tinha que ser subtil para não me deixar enganar por ele. Mas ainda assim, vou ouvir o que ele tem para dizer.
- Porque… - Foi de relance para à beira duma iluminação perto de nós e vi por fim a cor dos seus olhos. Vermelhos-vivos, como se o sangue os tivesse tingido de uma forma atroz. Agora já tinha completamente a certeza do que aquela sensação me estava a tentar dizer. – Eu sou um vampiro. – Ele é o QUÊ? – E o teu cheiro não esconde o que tu és, não-humana.
Dei uns passos para atrás, numa tentativa de fugir dele. Sempre me perguntara como seria ver outro como eu à minha frente. Dizia sempre que estaria calma e convicta. Mas ele era assustador com aqueles olhos vermelhos. Assustavam-me profundamente, mas ao mesmo tempo, davam-me uma vontade de me aprofundar neles. Coisa estranha, admito. Ele foi-se aproximando de mim e convidou-me a um passeio ligeiro, para apenas conversar. Assenti afirmativamente com a cabeça mas pelo sim pelo não mantive a minha retaguarda levantada, apenas por pura segurança.
1 comentário:
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