Abandoned - 2º Capítulo

"Abandoned"
Capítulo 2: Sangue


Já tinha dado dois passos para fora do dormitório quando me lembrei que me tinha esquecido do chapéu de chuva. Pois, nós os vampyros podemos resistir ao frio mas não gostamos de ficar ensopados até aos ossos.
Voltei para trás e subi até ao dormitório, abri o armário e tirei o meu anorak azul escuro do armário (tinha comprado aquele quando as chuvas começaram, á duas semanas) de onde caiu um pequeno objecto: o meu telemóvel.
Abri-o, mais por instinto e vi, maravilhada, que tinha uma mensagem de Heath.
#Estou bem Zo, dscp por ñ ter dito nd mas so hj é que me deram o tlmvl.
Ps: Sonho cntg todos os dias, Amo-te!
Apressei-me a responder. #Fico feliz Heath, qnd é q sais?
Guardei o telemóvel no bolso e voltei lá para baixo. Estava a sair de casa quando o meu bolso vibrou. Abri o telemóvel. #Ñ sei, pelo – mais uma smn aqui!
Respondi. #Dsd q melhores…
E continuei.
Trocamos mais umas mensagens pelo caminho.
#Já m sinto melhor, qr ver-te!
Suspirei
#Ñ sei s vai dar
#Zo! Aql ñ foi nd!
#Pds ter morrido!
#Por ti, ñ me importava.
#Heath…
#Ñ vou desistir Zo, e ñ posso falar + ou a mnh mãe tira m o tlmvl!
#Tá, bjs
#Amo-te!
E não mandou mais nenhuma.
Fui até ao estabulo a pensar (outra vez) no que é que ia fazer com aquela embrulhada, enquanto escovava Perséfone.
Eu amava Erik, quer dizer, ele era a minha alma gémea, como aquela coisa do Yin e do Yang, eu não gostava só da parte física, eu gostava de estar com ele, falar com ele e coisas assim... –perder Erik seria como perder uma parte de mim e deitar álcool nas feridas que se recusavam a sarar (OK, eu não sabia fazer comparações!)
Por outro lado, Heath já fazia parte da minha historia –eu sempre tinha estado apaixonada por ele e agora a minha nova atracção física (e sanguinária) recusava-se a desaparecer e a deixar-se esquecer… Perder Heath seria como perder uma parte da minha historia (para não falar no melhor dos sabores do mundo…).
Mas entre um e outro…
-Se quiseres podes monta-lá –disse Lenóbia, fazendo-me dar um pulo. Dei um safanão á cabeça e os últimos pensamentos sobre os meus amores desvairados perderam-se.
-Oh… Quer dizer, claro!
Sorri.
-Óptimo! Sela-a e vem ter comigo ao picadeiro, estava a treinar saltos com o StarLight .
StarLight era a nova aquisição da Casa da Noite, e Lenóbia parecia tê-lo adorado.
Retirei-me até á sala onde estavam os arreios, tirei a sela e a cabeçada dos cabides esquisitos que diziam “Perséfone” a letras douradas e fui sela-la.
Depois guiei-a até ao picadeiro e montei-a, sem ter de ajustar os estribos, visto que era a única a montar Perséfone.
Lenóbia deu-me algumas instruções antes de partir com StarLight para a pista de saltos do outro lado do estabulo.
Com uma pequena ordem das minhas pernas Perséfone começou o seu andamento leve a passo, enquanto eu retomava os meus pensamentos anteriores –“Loren” surgiu-me. Pois, esse era outro dos meus problemas. Loren e eu tínhamo-nos voltado a encontrar num corredor, no intervalo das aulas, e eu voltara a detectar um brilho de interesse no seu olhar, no entanto, tinha-o tratado como se ambos alimentássemos uma excelente relação de professor-aluna. Também era difícil esquecer Loren, ele fazia-me sentir adulta, sensual e incrivelmente confiante e eu não podia ignorar isso…
Oh, se ao menos Stevie Rae ainda cá estivesse, em vez de andar a deambular por grutas húmidas e fétidas…
Tornei a ferrar os calcanhares em Persefone, e esta começou num trote normal e saltitante, como se estivéssemos ambas muito felizes, coisa que, pelo menos eu não estava.
E depois havia Neferet. Eu não estava propriamente apaixonada por ela, mas ela era mesmo um problema a resolver… O que é que eu podia fazer com aquela situação? Quer dizer, eu mostrara muita confiança ao confronta-la, coisa que na verdade, não tinha. Dava voltas e voltas á cabeça, mas nunca arranjava maneira de fazer algo ou de me escapulir até ao deposito…
Três bater de pernas e Perséfone desatou a galope.
Parei de pensar, apenas naquele momento, e aproveitei a sensação do ar fresco a bater na cara e do meu deslizar pela sela macia. Incentivei-a para que corresse mais depressa, para que me fizesse esquecer os meus problemas e para que o vento varresse os pensamentos sobre o meu insuportável comportamento junto de três rapazes.
Finalmente tive de parar. Puxei as rédeas para trás e apeei-me. Peguei nas rédeas e estava quase a entrar no estabulo quando vi um rosto familiar, a espreitar da duas portas abertas.
Sorri.
-Há quanto tempo estás aqui? –perguntei.
-O suficiente para perceber que és uma excelente cavaleira, nada de novo! –Respondeu Erik.
-Mas porque é que vieste? Podias esperar por mim no dormitório…
-Estava ansioso por te ver.
-É urgente –Acrescentou baixinho, com ar melancólico.
-Erik? O que se passa?
-Nada de novo… Eu falo contigo depois!
-OK.
Entramos ambos nos estábulos, onde eu me encarreguei de tirar a sela a Perséfone, dar-lhe banho, escova-la e fazer-lhe algumas festas antes de sair com Erik.
-Então?
-Não te quero dizer aqui… Prefiro ir falar para um dos pátios.
-OK, mas deixa-me ir ao dormitório primeiro para tomar um banho, cheiro a cavalo!
-Claro.
Fomos o caminho todo até ao dormitório de mãos dadas e a trocar alguns comentários, mas de resto fomos calados, a apreciar o tempo juntos.
Quando cheguei ao dormitório dei de caras com Damien e Jack a jogar ás Damas junto da televisão onde Shaunee e Erin viam “Project Runway” e discutiam qual a melhor das peças de roupa.
-Olá, Z! –disse Damien, absorto no seu jogo –Foste a mais uma sessão de equitação?
-Hum, fui…
-A que horas acordas-te?
-Ás três.
-Pois, devias retardar a tua hora de adormecer ou não te aguentas em pé!
-Nunca ouviste dizer “Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”?
Desta vez foi Erin quem respondeu:
-Já! Quando tinha p’rá e…
-6 anos?!? –terminou Shaunee.
-Tiraste-me as palavras da boca gémea!
E desataram a rir. Fiz-lhes uma careta.
-Pois, vou tomar banho enquanto vocês continuam com as vossas… Infantilidades…-sibilei, no gozo.
Tomei um banho relaxante, eliminando aquele fedor a bosta e cavalo.
Escolhi uns sapatos giros, encarnados, que condiziam com a camisa encarnada -que tinha comprado no American Eagle na manhã em que vira Heath e lhe tinha bebido sangue, completando a nossa impressão. Vestia as calças de ganga escuras que estava para levar naquela manhã e o meu casaco de camurça preto. OK, vou admitir, ficava mesmo gira assim! –Não que eu fosse do género de rapariga que se acha uma brasa linda de morrer como a cabra da Afrodite, eu tinha apenas uma auto-estima saudável.
Desci de novo para a sala comum onde Erik estava á minha espera.
Shaunee assobiou.
-Ei! Não estavas á espera disto, pois não Erik? –Perguntou Erin.
-Pois, imagine-se lá o que é que vão fazer hoje á noite! –Completou Shaunee.
-Estejam caladas sim? –disse eu, e depois acrescentei, a tentar ser mazinha –Não tenho culpa que a vossa vida amorosa seja um desastre!
-É, sabes é que… -Começou Shaunee.
-…Nós não nos contentamos com pouco! –Acabou Erin, começando a rir novamente.
Rangi os dentes.
-Deixa estar –tranquilizou-me Erik –E elas têm razão, está mesmo gira hoje!
Ri-me, e tenho a certeza de que pareci uma parvinha.
Ele deu-me o braço, á moda antiga –coisa que, repito, teria parecido ridícula se fosse possível que alguém como Erik pudesse parecer ridículo.
Ele encaminhou-me até um dos pátios mais antigo, onde os alunos tinham deixado de ir, e sentamo-nos num dos velhos e decrépitos bancos de pedra.
-Então? –Perguntei eu. Encostando-me a ele enquanto observava a lua.
Erik suspirou.
-Zo… -parecia estar a ser difícil, como se as palavras lhe queimassem a garganta (acreditem, eu sei o que isso é!) –É que… Bem, eu sou sextanista.
-Sim… Só me querias dizer isso? Não parece difícil de deduzir…
-Pois… -Já eram reticencias a mais – Mas eu; eu posso…ããã… mudar, entretanto.
-Oh! –A noticia atingiu-me como uma pancada, não tinha pensado naquilo… -Quando é que vai acontecer?
-Bem, é difícil de deduzir, pode demorar três meses ou pode ser já daqui a três horas…
-E o que é que vamos fazer? Quer dizer, quando tu fores um vampe e eu for uma Iniciada e tal…
-Tenho pensado nisso… É que se eu vier ensinar teatro ou assim para a Casa da Noite podemos estar juntos, mas não podemos namorar porque é proibido…
-Mas não nos podemos separar!
-Não. Foi o que me levou a pensar que talvez tenha de vir viver para aqui…
-Para aqui?
-Sim. Arranjo casa aqui ao pé e podes sair da escola para me visitar, quanto mais não seja, sais pelo alçapão.
Estremeci.
-Zo? O que foi?
-Ahh… Pois, foi lá que eu vi pela primeira vez os corpos do Elliot e da Elisabeth Sem Apelido. Não gosto daquela zona, sabes?
-Tudo bem… E também não me agrada que venhas a pé com aquelas criaturas por ai.
-Olá!! Tipo, eu deito fogo dos braços??!!??
-Pois,e é a coisa mais gira que eu já vi mas não me parece que consigas vencer um batalhão de mortos vivos!
-Se quiser, venço!
-Sim pois… Mas á uma coisa que eu queria fazer antes que seja tarde de mais.
-O quê?
Riu-se. Depois, com a unha do polegar direito, fez um rasgão na pele do pescoço.
Sobe que o fizera não porque vira, pois o golpe tinha sido feito do lado contrario aquele em que ele estava, mas sim por causa do cheiro: era doce e cativante, com um toque de mistério e coisas exóticas que despertaram em mim o meu lado Afrodite (e com isto quero dizer galderia sem vergonha ansiosa por coisas eróticas) . O cheiro não era tão bom como o de Heath mas mesmo assim era cativante. Aproximei-me do seu lado esquerdo, contornando-o com uma lentidão propositada, e lambi aquele risco. O sabor era maravilhoso, melhor que o cheiro mas com as mesmas características. Ao mesmo tempo, o desejo aumentou e eu empurrei-o contra a parede por detrás do banco.
-Zo! –ele arfava –Tem calma, aqui não!
-Porque não? –murmurei para o seu pescoço –Porque não aqui? Porque não agora?
-Porque se alguém aparece, não me parece que estejamos a fazer boa figura!
Aceitei, relutante, os seus argumentos.
-Então porque te cortaste?
-Eu não disse que não era agora, só disse que não aqui!
-Claro! Então onde? –Obriguei-me a afastar-me do corte e a manter contacto visual com ele.
Ele pensou por uns segundos.
-A velha casa do jardineiro?
Torci o nariz. A velha casa do jardineiro era uma casinha bafienta, criada quando a Casa da Noite era ainda um convento ou uma coisa assim, e ficava na parte mais desolada do campus, ninguém ia lá, e eu sabia bem porquê – nada ali tinha interesse.
-Tu sabes que já ninguém vai lá!
-Exactamente por isso! Ou tu queres público?
Suspirei, e tive de voltar a aceitar os seus argumentos.
-Vamos, rápido!
Ele riu-se, pegou-me ao colo como se me fosse embalar e começou a andar.
Eu já referi que os vampes têm muita força? Pois, ele era quase um!
Chegamos ao outro lado do campus em 15 minutos.
Depois disso tudo se tornou uma mancha enevoada.
Só sei que aconteceu – e que me deu imenso prazer.

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