"Abandoned"
Capítulo 9: Semelhanças
O corredor era tão comprido que era difícil distinguir-lhe o fim. Nada fazia sentido. Eu dava passos, mas depois recuava. Eu sentia-me mais próxima, no entanto, o fim estava à mesma distancia.
Queria gritar.
Mas quem iria ouvir? Haveria alguém no fundo do corredor? Alguma recompensa para tanto esforço? Alguém que me ouvisse implorar por ajuda? Alguém disposto a ajudar?
Não queria saber, tinha de o fazer, se não o fizesse, enlouquecia.
Gritei, mas os gritos saíram-me mudos, esperneei e agarrei-me às paredes, mas continuava no mesmo sitio, no sitio do costume. Nada preenchia os meus passos porque eu ainda não fizera nada. Era por isso.
Mas eu não podia aguentar mais aquilo, não muito mais, eu ia sucumbir não tardava.
Agarrei-me à força que me restava para continuar a lutar, mas ela diminuía com cada segundo, e diminuía com cada eternidade, mas eu continuava na mesma. O tempo passava por mim a correr. Eu via-o. Mas não podia correr com ele. Nada era mais livre que o tempo, que podia correr nos sítios onde mais ninguém chegava. E eu não podia continuar a vê-lo passar sem ir ter com ele, sem correr ao seu lado, sem me sentir minimamente útil.
Aquela musica irritante dava cabo de mim, no entanto salvou-me do meu pesadelo.
Há séculos que me perguntava porque é que mantinha um toque tão irritante, mas não sabia a resposta –talvez fosse por ser uma recordação da minha antiga vida. “Talvez”, era esse o significado daquele pesadelo: tudo era “talvez”, não tinha certezas, não havia maneira de ter.
Quer dizer, eu tinha uma: era melhor atender o telemóvel, antes que quem quer que fosse desliga-se.
Desejei que fosse o Heath, embora fosse um desejo proibido.
Abri o telemóvel, e não pude deixar de me repreender por estar desiludida: Era a avó RedBird.
-Avó?
-Bom dia querida!
-São seis da tarde!
-Para ti são seis da manhã! Não queria ligar durante as aulas!
-Avó, as aulas acabaram ontem!
-Ontem foi quinta-feira?
-Foi!
-Ah, desculpa então!
-Porquê?
-Porque te acordei!
-Oh, não! Ainda bem que ligaste, estava a ter um pesadelo! Mas porque é que ligaste?
-Já não falávamos à algum tempo… E eu pressenti que não estavas bem. O que é que se passa?
Era mesmo da avó RedBird! Ela sabia sempre quando algo estava mal, ao contrario da minha mãe, que podia ter as coisas à frente dos olhos e não perceber!
-Não é nada avó! Os teus pressentimentos devem estar a falhar!
Tinha lágrimas nos olhos ao dizer aquilo, mas esforcei-me por esconde-las. Não podia contar-lhe, a ela também!
-A mim não me enganas, Zoey RedBird! Os meus pressentimentos não estão a falhar! Podiam falhar noutra altura, mas agora são tão fortes que é impossível estarem errados! Agora diz-me, o que é que se passa, u-we.tsi a-ge-hu-tsa?
Gostei tanto quando ela me chamou aquilo, senti-me tão bem ao ouvi-la usar o termo cherokee para filha, que deitei tudo –o que podia contar –cá para fora.
-Não foi nada de especial avó! É que estou com um problema com os meus amigos, é que eles não conseguem entender! Nunca foram marcados assim, e Nyx nunca lhes pediu para fazer o que eu tenho de fazer! Eles não me ouvem, e eu não consigo perceber porquê! –chorava tanto quando acabei de falar, que as palavras finais ficaram indecifráveis.
Ouve silêncio do outro lado. Ficou tanto tempo assim que me pareceu que tivesse ido embora sem desligar o telemóvel, mas quando abri a boca para falar, ela respondeu.
-O que é que eles não compreendem? –a voz soava calma, mas eu pressentia alguma agitação. A minha avó era intuitiva, talvez pressentisse que eu estava em perigo.
Desta vez eu fiquei em silêncio. Não podia contar-lhe esta parte, isso era o que me incomodava.
-Sabes que podes contar-me. –insistiu.
Hesitei. Era tentador.
-Desculpa, avó! Mas não posso! É que tenho mesmo de resolver isto sozinha… Eu não quero que te chateies, mas não dá!
-Porque me havia de chatear? Querida, se os teus amigos se chateiam é porque não compreendem que Nyx precisa de ti! Não penses nisso! E há mais alguma coisa, certo? Algo suave e do qual tu gostas!
-Há! Hoje vem uma nova companheira de quarto… Espero que seja simpática!
-Vai ser! Depois de te fazer passar por tanto, Nyx vai recompensar-te!
-Espero que sim. –disse, e depois acrescentei –e que me ajude a lidar com o que aconteceu a Stevie Rae!
-Vai ajudar!
-E quais serão as nossas semelhanças? Temos de ter algo em comum!
-Não sei… Sabes que por vezes os melhores amigos são os mais diferentes… Tu e Stevie Rae eram tão diferentes como um pássaro é de um peixe, mas eram as melhores amigas!
-Stevie Rae era diferente…
-Era. E é por isso que não a vais esquecer nunca, porque se fossem muito parecidas, havias de a recordar como uma sósia, assim, preservas as suas características junto a ti, sem te confundires com ela
Aquilo parecia confuso, mas eu senti que era a verdade. Essa era uma das razões para eu gostar tanto da minha avó, ela sabia sempre arranjar uma maneira de justificar as coisas!
-E olha querida, esqueci-me de te dizer, com esta conversa toda. Eu vou chegar ai no domingo, para podermos desfrutar do Daihoma juntas!
-A sério? Oh avó, isso é óptimo! Porque é que não vens mais cedo?
-Porque preciso de tratar de algumas coisas aqui na quinta…
-Ah, está bem… -disse eu, ligeiramente desiludida.
-Adeus u-we.tsi a-ge-hu-tsa, espero ver-te em breve!
-Adeus avó, também te quero ver em breve!
Ela desligou.
Transbordava de alegria quando terminei a chamada.
“Não é assim tão mau! Eu vou resolver isto!” pensei. E esperava que assim fosse.
Vesti-me e desci, ainda super feliz, para ir tomar o pequeno-almoço.
Infelizmente a minha felicidade não durou muito, aliás, desvaneceu-se mal cheguei lá a baixo e reparei nos meus (ex-) amigos, e como acontecia sempre, os meus olhos encheram-se de lágrimas.
Engoli-as e segui até à cozinha. Preparei lá o pequeno-almoço, e foi lá que comi meia tigela antes de ouvir um berro que vinha da sala.
-ZOEY!
Fui até lá rapidamente, e fui dar com Neferet à porta do dormitório.
Ao lado dela estava uma rapariga alta, morena, com longos cabelos pretos ondulados e uns olhos lindos verdes-azulados. Vestia umas calças castanhas e um top verde que ficava lindamente com os seus olhos, que estavam rodeados de olheiras. A miúda parecia estar a recuperar de uma gripe terrível
No meio da testo estava o esboço de uma linda lua.
Não precisava que me dissessem quem era para saber que era Alisha.
"E agora?” pensei “Quais serão as nossas semelhanças?”
Queria gritar.
Mas quem iria ouvir? Haveria alguém no fundo do corredor? Alguma recompensa para tanto esforço? Alguém que me ouvisse implorar por ajuda? Alguém disposto a ajudar?
Não queria saber, tinha de o fazer, se não o fizesse, enlouquecia.
Gritei, mas os gritos saíram-me mudos, esperneei e agarrei-me às paredes, mas continuava no mesmo sitio, no sitio do costume. Nada preenchia os meus passos porque eu ainda não fizera nada. Era por isso.
Mas eu não podia aguentar mais aquilo, não muito mais, eu ia sucumbir não tardava.
Agarrei-me à força que me restava para continuar a lutar, mas ela diminuía com cada segundo, e diminuía com cada eternidade, mas eu continuava na mesma. O tempo passava por mim a correr. Eu via-o. Mas não podia correr com ele. Nada era mais livre que o tempo, que podia correr nos sítios onde mais ninguém chegava. E eu não podia continuar a vê-lo passar sem ir ter com ele, sem correr ao seu lado, sem me sentir minimamente útil.
Aquela musica irritante dava cabo de mim, no entanto salvou-me do meu pesadelo.
Há séculos que me perguntava porque é que mantinha um toque tão irritante, mas não sabia a resposta –talvez fosse por ser uma recordação da minha antiga vida. “Talvez”, era esse o significado daquele pesadelo: tudo era “talvez”, não tinha certezas, não havia maneira de ter.
Quer dizer, eu tinha uma: era melhor atender o telemóvel, antes que quem quer que fosse desliga-se.
Desejei que fosse o Heath, embora fosse um desejo proibido.
Abri o telemóvel, e não pude deixar de me repreender por estar desiludida: Era a avó RedBird.
-Avó?
-Bom dia querida!
-São seis da tarde!
-Para ti são seis da manhã! Não queria ligar durante as aulas!
-Avó, as aulas acabaram ontem!
-Ontem foi quinta-feira?
-Foi!
-Ah, desculpa então!
-Porquê?
-Porque te acordei!
-Oh, não! Ainda bem que ligaste, estava a ter um pesadelo! Mas porque é que ligaste?
-Já não falávamos à algum tempo… E eu pressenti que não estavas bem. O que é que se passa?
Era mesmo da avó RedBird! Ela sabia sempre quando algo estava mal, ao contrario da minha mãe, que podia ter as coisas à frente dos olhos e não perceber!
-Não é nada avó! Os teus pressentimentos devem estar a falhar!
Tinha lágrimas nos olhos ao dizer aquilo, mas esforcei-me por esconde-las. Não podia contar-lhe, a ela também!
-A mim não me enganas, Zoey RedBird! Os meus pressentimentos não estão a falhar! Podiam falhar noutra altura, mas agora são tão fortes que é impossível estarem errados! Agora diz-me, o que é que se passa, u-we.tsi a-ge-hu-tsa?
Gostei tanto quando ela me chamou aquilo, senti-me tão bem ao ouvi-la usar o termo cherokee para filha, que deitei tudo –o que podia contar –cá para fora.
-Não foi nada de especial avó! É que estou com um problema com os meus amigos, é que eles não conseguem entender! Nunca foram marcados assim, e Nyx nunca lhes pediu para fazer o que eu tenho de fazer! Eles não me ouvem, e eu não consigo perceber porquê! –chorava tanto quando acabei de falar, que as palavras finais ficaram indecifráveis.
Ouve silêncio do outro lado. Ficou tanto tempo assim que me pareceu que tivesse ido embora sem desligar o telemóvel, mas quando abri a boca para falar, ela respondeu.
-O que é que eles não compreendem? –a voz soava calma, mas eu pressentia alguma agitação. A minha avó era intuitiva, talvez pressentisse que eu estava em perigo.
Desta vez eu fiquei em silêncio. Não podia contar-lhe esta parte, isso era o que me incomodava.
-Sabes que podes contar-me. –insistiu.
Hesitei. Era tentador.
-Desculpa, avó! Mas não posso! É que tenho mesmo de resolver isto sozinha… Eu não quero que te chateies, mas não dá!
-Porque me havia de chatear? Querida, se os teus amigos se chateiam é porque não compreendem que Nyx precisa de ti! Não penses nisso! E há mais alguma coisa, certo? Algo suave e do qual tu gostas!
-Há! Hoje vem uma nova companheira de quarto… Espero que seja simpática!
-Vai ser! Depois de te fazer passar por tanto, Nyx vai recompensar-te!
-Espero que sim. –disse, e depois acrescentei –e que me ajude a lidar com o que aconteceu a Stevie Rae!
-Vai ajudar!
-E quais serão as nossas semelhanças? Temos de ter algo em comum!
-Não sei… Sabes que por vezes os melhores amigos são os mais diferentes… Tu e Stevie Rae eram tão diferentes como um pássaro é de um peixe, mas eram as melhores amigas!
-Stevie Rae era diferente…
-Era. E é por isso que não a vais esquecer nunca, porque se fossem muito parecidas, havias de a recordar como uma sósia, assim, preservas as suas características junto a ti, sem te confundires com ela
Aquilo parecia confuso, mas eu senti que era a verdade. Essa era uma das razões para eu gostar tanto da minha avó, ela sabia sempre arranjar uma maneira de justificar as coisas!
-E olha querida, esqueci-me de te dizer, com esta conversa toda. Eu vou chegar ai no domingo, para podermos desfrutar do Daihoma juntas!
-A sério? Oh avó, isso é óptimo! Porque é que não vens mais cedo?
-Porque preciso de tratar de algumas coisas aqui na quinta…
-Ah, está bem… -disse eu, ligeiramente desiludida.
-Adeus u-we.tsi a-ge-hu-tsa, espero ver-te em breve!
-Adeus avó, também te quero ver em breve!
Ela desligou.
Transbordava de alegria quando terminei a chamada.
“Não é assim tão mau! Eu vou resolver isto!” pensei. E esperava que assim fosse.
Vesti-me e desci, ainda super feliz, para ir tomar o pequeno-almoço.
Infelizmente a minha felicidade não durou muito, aliás, desvaneceu-se mal cheguei lá a baixo e reparei nos meus (ex-) amigos, e como acontecia sempre, os meus olhos encheram-se de lágrimas.
Engoli-as e segui até à cozinha. Preparei lá o pequeno-almoço, e foi lá que comi meia tigela antes de ouvir um berro que vinha da sala.
-ZOEY!
Fui até lá rapidamente, e fui dar com Neferet à porta do dormitório.
Ao lado dela estava uma rapariga alta, morena, com longos cabelos pretos ondulados e uns olhos lindos verdes-azulados. Vestia umas calças castanhas e um top verde que ficava lindamente com os seus olhos, que estavam rodeados de olheiras. A miúda parecia estar a recuperar de uma gripe terrível
No meio da testo estava o esboço de uma linda lua.
Não precisava que me dissessem quem era para saber que era Alisha.
"E agora?” pensei “Quais serão as nossas semelhanças?”
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