"Abandoned"
Capítulo 5: Abandonada
Capítulo 5: Abandonada
Corri para longe, sem saber bem para onde, na esperança de encontrar um sitio abrigado no qual pudesse chorar à vontade.
Imagens daquele momento apareciam na minha cabeça, dando pequenos disparos de dor. Sentia-me pessimamente, como se fosse rejeitar a mudança. E bem podia fazê-lo: A única esperança para salvar a minha melhor amiga tinha-se apagado e os meus amigos, a minha razão de superar aquilo, tinham-me abandonado. O que é que eu ia fazer? Sem nada de significante na minha vida, ia agarrar-me a quê? Sentia que estava suspensa num abismo, e que a corda à qual me segurava cedia rapidamente ao meu peso aumentado. Poderia eu aguentar mais golpes? Não me parecia.
Parei e fiquei surpreendida por estar à porta da casa do jardineiro. Talvez porque me sentira tão bem naquele local, porque tinha ficado imensamente grata por o ter comigo, o meu corpo me tinha levado lá, talvez quisesse recordar algo tão reconfortante. Não esperei muito mais, fosse porque razão fosse, eu precisava de me abrigar.
Deixei-me lá a chorar, sem pensar noutra coisa. Já não tinha amigos –pode parecer mas eu não estava a fazer nenhum melodrama nem era uma criança de cinco anos –todos me tinham abandonado, embora Stevie Rae não tivesse culpa, ela já lá não estava.
Pois, o que é que eu tinha a perder? Erin, Shaunee, Damien, Jack, Cole e até Erik tinham desconfiado de mim, tinham ignorado o que lhes dizia e acreditado nas suas suposições em vez de acreditar na minha palavra! Podia tentar salvar Stevie Rae ou morrer a tentar, porque ela passara a ser o mais importante. Eu não tinha nada, e se fosse preciso morria para ter algo. Mas como é que eu o faria? Precisava de ajuda. Não podia tornar a aparecer lá sozinha, e querer ter a sorte de sobreviver –era pedir de mais.
Fiquei dentro da casa até a chuva amainar (o que só aconteceu ao meio-dia) e depois voltei para o dormitório, para o meu quarto, para a minha cama.
Nala soltou um dos seus “miaufs”, quando eu me deitei, e veio enroscar-se ao pé de mim.
-Eu sei –respondi-lhe, com voz rouca. Só agora me apercebia que não falava à horas –Mas eles não percebem. E não podemos pedir que percebam, eu faria o mesmo.
Depois Nala fez a coisa mais incrível que eu já a vira fazer: enroscou-se mais ao pé de mim e soltou um longo “miauuu” que se pareceu imenso com um ruído de pena, compaixão. Fiquei-lhe agradecida, ela podia resmungar muito, mas eu sabia que ela me entendia.
-Não, estava enganada, eu ainda te tenho a ti –murmurei, dando-lhe festas na cabeça.
Ela começou a ronronar, tranquila, e eu deixei que aquele som me embalasse, entregando-me aos meus sonhos agitados, cheios de ódio, frustração, tristeza e um outro sentimento que eu não conhecia, mas que me parecia ser a corda a partir-se.
Acordei a meio da noite esfomeada.
Ainda tentei acalmar o estômago e deitar-me, mas a fome não me deixava dormir, por isso desci até à cozinha.
Vasculhei nos armários e encontrei umas bolachas quaisquer, integrais, que comecei a comer. Mal dei a primeira trinca percebi que não sabiam a nada e que a minha fome não acalmava.
Desesperada com aquela sensação terrível, voltei à cozinha e tirei outro tipo de bolachas, desta vez umas de canela, e comecei a comer de novo.
Nada.
A fome não acalmava, o sabor não estava lá.
Voltei à cozinha e, no meio do meu desespero, encontrei o que procurava, sem saber que o procurava até o encontrar.
A lamina da faca brilhou na minha mão.
Não sabia o que estava a fazer. Não percebia porque é que tinha de o fazer. Mas sabia que sim –e mais do que isso, sabia que tinha ser do meu; Não ia magoar ninguém.
Sentei-me no sofá, a olhar para o objecto brilhante nas minhas mãos. Não estava hesitante por causa do corte –eu queria fazê-lo -, estava hesitante porque sabia que aquilo era anormal, estranho e ligeiramente obsessivo.
“Deixa estar” tentei (auto) ajudar-me “Vês à manhã no livro de sociologia, tu não tens culpa, é este desejo obsessivo! Acalma-te, não vais magoar ninguém…” e continuei a ignorar a voz que dizia “Anormal! Anormal! Anormal!” na minha cabeça.
Levei a faca ao dedo… Já sentia o cheiro a entrar nas minhas narinas… o sabor… e a excitação de o fazer… Já não tinha de esperar muito mais… Bastava deslizar a faca pelo dedo… deslizar…
-Ah!
Um grito interrompeu os meus devaneios.
Olhei para trás.
Era Shaunne.
-La…La… Larga isso! –vi que ela tremia, como se receasse que eu lhe atirasse a faca.
-Shaunee? Olha eu não…
-Pará! Pará de agir assim! O que é que te deu? Agora queres matar-te? –a sua voz era tão aguda que me apeteceu abana-la e dizer-lhe “Acorda! É normal que eu tenha aquelas tretas do vampyros adultos!! Vês a minha marca??” mas resignei-me.
-Shaunee, eu não me ia matar! A sério, é que…
-Dá-me a tua palavra em como não te ias corta!
-Shaunee, não é b…
-Dá-ma!
-Eu nã…
-DÁ-MA!
-Eu… Eu não posso…
-Porque é que te queres destruir? Tipo, a Stevie Rae foi-se à quase um mês! Já cá não está e só agora é que reages assim?
-Não é por causa dela!
-Então é por causa do quê?
Queria contar-lhe. Dizer-lhe a verdade e pedir-lhe que me acompanhasse às grutas. Mas não podia. Preferia que me achasse louca.
-Eu não te posso dizer… -murmurei.
-Dá cá isso! –ordenou, apontando para a faca.
“Oh, francamente! Eu já não sou uma criança! Posso tratar das facas!”
Abri a boca para responder, mas ela interrompeu-me:
-Dá cá isso, Zoey!
E eu, feita cachorrinho, entreguei-lha.
-Boa, agora vê se esqueces essa loucura de te matares e vai dormir.
E foi-se.
Fiquei ali a olhar para as escadas.
Bem, eu podia ter exagerado ao fazer aquilo dos berros e pensar que eles já não me falavam, mas agora tinha a certeza de que me iam achar maluca. Shaunee ia dizer-lhes. Não que ela fosse má, mesquinha ou parva, mas não ia poder esconder algo tão importante. E eu teria de aguentar mais algumas parvoíces sobre ter batido com a cabeça nos túneis.
Mas a fome continuava a apertar-me o estômago, por isso voltei à cozinha para tirar outra faca.
Cortei o dedo e fiquei ali à espera que a fome amainasse, e amainou.
Depois regressei ao dormitório, estanquei o fluxo de sangue e voltei para a cama.
“Nota mental: Consultar urgentemente a Biblioteca!”
Imagens daquele momento apareciam na minha cabeça, dando pequenos disparos de dor. Sentia-me pessimamente, como se fosse rejeitar a mudança. E bem podia fazê-lo: A única esperança para salvar a minha melhor amiga tinha-se apagado e os meus amigos, a minha razão de superar aquilo, tinham-me abandonado. O que é que eu ia fazer? Sem nada de significante na minha vida, ia agarrar-me a quê? Sentia que estava suspensa num abismo, e que a corda à qual me segurava cedia rapidamente ao meu peso aumentado. Poderia eu aguentar mais golpes? Não me parecia.
Parei e fiquei surpreendida por estar à porta da casa do jardineiro. Talvez porque me sentira tão bem naquele local, porque tinha ficado imensamente grata por o ter comigo, o meu corpo me tinha levado lá, talvez quisesse recordar algo tão reconfortante. Não esperei muito mais, fosse porque razão fosse, eu precisava de me abrigar.
Deixei-me lá a chorar, sem pensar noutra coisa. Já não tinha amigos –pode parecer mas eu não estava a fazer nenhum melodrama nem era uma criança de cinco anos –todos me tinham abandonado, embora Stevie Rae não tivesse culpa, ela já lá não estava.
Pois, o que é que eu tinha a perder? Erin, Shaunee, Damien, Jack, Cole e até Erik tinham desconfiado de mim, tinham ignorado o que lhes dizia e acreditado nas suas suposições em vez de acreditar na minha palavra! Podia tentar salvar Stevie Rae ou morrer a tentar, porque ela passara a ser o mais importante. Eu não tinha nada, e se fosse preciso morria para ter algo. Mas como é que eu o faria? Precisava de ajuda. Não podia tornar a aparecer lá sozinha, e querer ter a sorte de sobreviver –era pedir de mais.
Fiquei dentro da casa até a chuva amainar (o que só aconteceu ao meio-dia) e depois voltei para o dormitório, para o meu quarto, para a minha cama.
Nala soltou um dos seus “miaufs”, quando eu me deitei, e veio enroscar-se ao pé de mim.
-Eu sei –respondi-lhe, com voz rouca. Só agora me apercebia que não falava à horas –Mas eles não percebem. E não podemos pedir que percebam, eu faria o mesmo.
Depois Nala fez a coisa mais incrível que eu já a vira fazer: enroscou-se mais ao pé de mim e soltou um longo “miauuu” que se pareceu imenso com um ruído de pena, compaixão. Fiquei-lhe agradecida, ela podia resmungar muito, mas eu sabia que ela me entendia.
-Não, estava enganada, eu ainda te tenho a ti –murmurei, dando-lhe festas na cabeça.
Ela começou a ronronar, tranquila, e eu deixei que aquele som me embalasse, entregando-me aos meus sonhos agitados, cheios de ódio, frustração, tristeza e um outro sentimento que eu não conhecia, mas que me parecia ser a corda a partir-se.
Acordei a meio da noite esfomeada.
Ainda tentei acalmar o estômago e deitar-me, mas a fome não me deixava dormir, por isso desci até à cozinha.
Vasculhei nos armários e encontrei umas bolachas quaisquer, integrais, que comecei a comer. Mal dei a primeira trinca percebi que não sabiam a nada e que a minha fome não acalmava.
Desesperada com aquela sensação terrível, voltei à cozinha e tirei outro tipo de bolachas, desta vez umas de canela, e comecei a comer de novo.
Nada.
A fome não acalmava, o sabor não estava lá.
Voltei à cozinha e, no meio do meu desespero, encontrei o que procurava, sem saber que o procurava até o encontrar.
A lamina da faca brilhou na minha mão.
Não sabia o que estava a fazer. Não percebia porque é que tinha de o fazer. Mas sabia que sim –e mais do que isso, sabia que tinha ser do meu; Não ia magoar ninguém.
Sentei-me no sofá, a olhar para o objecto brilhante nas minhas mãos. Não estava hesitante por causa do corte –eu queria fazê-lo -, estava hesitante porque sabia que aquilo era anormal, estranho e ligeiramente obsessivo.
“Deixa estar” tentei (auto) ajudar-me “Vês à manhã no livro de sociologia, tu não tens culpa, é este desejo obsessivo! Acalma-te, não vais magoar ninguém…” e continuei a ignorar a voz que dizia “Anormal! Anormal! Anormal!” na minha cabeça.
Levei a faca ao dedo… Já sentia o cheiro a entrar nas minhas narinas… o sabor… e a excitação de o fazer… Já não tinha de esperar muito mais… Bastava deslizar a faca pelo dedo… deslizar…
-Ah!
Um grito interrompeu os meus devaneios.
Olhei para trás.
Era Shaunne.
-La…La… Larga isso! –vi que ela tremia, como se receasse que eu lhe atirasse a faca.
-Shaunee? Olha eu não…
-Pará! Pará de agir assim! O que é que te deu? Agora queres matar-te? –a sua voz era tão aguda que me apeteceu abana-la e dizer-lhe “Acorda! É normal que eu tenha aquelas tretas do vampyros adultos!! Vês a minha marca??” mas resignei-me.
-Shaunee, eu não me ia matar! A sério, é que…
-Dá-me a tua palavra em como não te ias corta!
-Shaunee, não é b…
-Dá-ma!
-Eu nã…
-DÁ-MA!
-Eu… Eu não posso…
-Porque é que te queres destruir? Tipo, a Stevie Rae foi-se à quase um mês! Já cá não está e só agora é que reages assim?
-Não é por causa dela!
-Então é por causa do quê?
Queria contar-lhe. Dizer-lhe a verdade e pedir-lhe que me acompanhasse às grutas. Mas não podia. Preferia que me achasse louca.
-Eu não te posso dizer… -murmurei.
-Dá cá isso! –ordenou, apontando para a faca.
“Oh, francamente! Eu já não sou uma criança! Posso tratar das facas!”
Abri a boca para responder, mas ela interrompeu-me:
-Dá cá isso, Zoey!
E eu, feita cachorrinho, entreguei-lha.
-Boa, agora vê se esqueces essa loucura de te matares e vai dormir.
E foi-se.
Fiquei ali a olhar para as escadas.
Bem, eu podia ter exagerado ao fazer aquilo dos berros e pensar que eles já não me falavam, mas agora tinha a certeza de que me iam achar maluca. Shaunee ia dizer-lhes. Não que ela fosse má, mesquinha ou parva, mas não ia poder esconder algo tão importante. E eu teria de aguentar mais algumas parvoíces sobre ter batido com a cabeça nos túneis.
Mas a fome continuava a apertar-me o estômago, por isso voltei à cozinha para tirar outra faca.
Cortei o dedo e fiquei ali à espera que a fome amainasse, e amainou.
Depois regressei ao dormitório, estanquei o fluxo de sangue e voltei para a cama.
“Nota mental: Consultar urgentemente a Biblioteca!”
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