Abandoned: Vazio

Vazio
Capítulo 11


-Zoey! E…? –Perguntou Luke, sentando-se ao meu lado, na mesa onde eu e Alisha jantávamos.
-Alisha Stevens –respondeu Alisha rapidamente.
-Alisha? Oh, sim! A Zoey falou-me de ti!
-Falas-te? Quando? –perguntou ela, virando-se para mim.
-Anteontem –respondeu Luke, antes que eu abrisse a boca.
-Como? –interrogou ela, atónita.
-Quando um caça identifica alguém, eles avisam-nos. –exclamei, feliz por poder abrir a boca.
Ela ficou confusa. Eu conhecia aquela sensação, a pressão terrível de se ser destinado a algo antes de isso acontecer, de o nosso destino ser conhecido por outros antes de nós…
-Ok… -ela tentava recuperar do choque –E tu és?
-Luke Nolls –afirmou ele, prontamente.
-Nolls??
-Também achei estranho… -respondi-lhe.
-Estranho? Pior que isso, é anormal!
-Em minha legitima defesa, todos nós somos anormais desde que somos marcados!
-É verdade… -admitimos.
Depois calamo-nos, limitando-nos a apreciar o sabor da salada de atum.
-É suposto isto ser uma cantina? –indagou Alisha, quebrando o silencio.
-Acho que sim… E é mesmo se a quiseres comparar com a dos vampes…
-Já lá foste? –Luke parecia admirado.
-Sim, a Neferet queria conversar comigo. –e depois acrescentei –Isso é estranho?
-Não muito, já lá foram alguns alunos, mas a maioria fala com eles nas salas ou nos gabinetes… E eles bebem…
-Não, pelo menos naquele sitio não…
-Nós também vamos ter de beber…
-Sim, mas só quando fores uma vampe –respondeu Luke.
Tentei ficar fora da conversa, sangue não era algo que me agradasse –não, era a expressão errada, agradava-me, mas o facto de me agradar não era nada que me agradasse. Confuso, não era?
-O que é que tens Zoey?
-Nada… -e tive de acrescentar –Luke, deixa estar, estou bem… E não faças esses olhos de cachorrinho, pareces um miudinho.
“Ou o Heath” acrescentei para mim.
-Então… gostas de miudinhos??
-Nem por isso, miúdos não são a minha especialidade, mas não tenho nada contra!
-Hum… Nada contra não chega…
-Não.
-Pois, bem me parecia. –depois virou-se para Alisha –E tu, Stevens?
-Eu até os acho engraçados… Desde que não me chamem Stevens!
-Então chamou-te o quê?
-O que quiseres…
-Ali??
-Não sou do género que escolhe alcunhas parvas. Ou apelidos, como Nolls.
-Al, fica bem? E eu não escolhi Nolls para me tratarem por Nolls!
-Pode ficar Al, se quiserem.
Aquilo fazia-me lembrar os meus amigos. Uma sensação de vazio começou a preencher o meu peito, e para a tentar aliviar, perguntei a primeira coisa que me veio à cabeça.
-Porque é que escolheste Nolls? Porque é que não ficaste com o teu antigo apelido?
Parecia que tinha levado um tiro. Completamente apanhado de surpresa, ele respondeu. Embora cabisbaixo.
-Foi… Um problema com os meus pais… Quando sobe que eu tinha sido marcado o meu pai gritou-me e disse para não voltar a usar o nome da nossa família… Quando sobe que podia mudar de apelido, arranjei a solução.
-Isso é horrível, não devias ser obrigado a mudar de nome, tu é que escolhes!
-Mas fui eu que escolhi! Não percebem? Vocês usariam o nome de uma família que não vos queria? Se te mandassem deixar de usar o nome da tua família, gostavas de ficar com ele? Só para contrariar alguém? Era só mais um titulo vazio.
Ficamos as duas petrificadas, sem saber o que dizer.
-Se te serve de consolo, já ninguém liga muito ao apelido… -disse Alisha.
“Rapariga de espírito prático” pensei, e apressei-me a concordar.
-Pois, já não é nada de especial…
-Mas na minha família era, pelo menos, do lado do meu pai, e aminha mãe começou a pensar o mesmo. Dizerem para deixar de usar o apelido deles, era como dizerem que já não fazia parte da família…
-Coisa antiquada… -comentou Alisha.
-Mas o pior… -continuou Luke, como se ninguém o tivesse interrompido. Coitado, devia mesmo precisar de falar! –O pior foi a minha mãe… Ela… Ela passou-se quando eu lhe disse que já não me chamava Luke Evans, e sim Luke Nolls…
-A tua mãe? Mas ela não queria que mudasses de nome?
-Ela não ia contrariar o meu pai, mas continua a vir visitar-me às escondidas, foi como se perdesse o filho quando lhe disse que tinha mudado de apelido.
-Isso é do mais esquisito que eu já vi… Mas não interessa, vamos mas é arrumar os tabuleiros e ir para o dormitório.
Levantou-se e começou a andar, mas depois voltou para trás.
-Zoey, onde é que se põe os tabuleiros?


Estava deitada, mas não conseguia dormir. Os pensamentos do dia rodavam na minha cabeça.
Alisha e Luke tinham estado a conversar, cada vez mais juntinhos na sala de jantar, quase não ligando a Gossip Girl, que passava na televisão. Eu ficara a ver e a pensar. Mesmo agora continuava a pensar, enquanto Alisha dormia profundamente na cama ao lado. Já ninguém dormia ali à imenso tempo, e agora que finalmente alguém tomara posse da cama, continuava a ser estranho.
Mas mais estranho ainda era o facto de eu ver os meus amigos conversar e rir, enquanto eu própria o fazia, como se estivesse no meio deles, mas em vez deles eram outras pessoas. Ficava feliz por nenhum deles saber que eu falara com Afrodite. Alisha não sabia sequer quem ela era, e Luke, embora quartanista –sim, Luke era quartanista – não andava propriamente metido dentro do nosso dormitório.
Luke quase que poderia substituir Damien –não era gay, mas não era o género de rapaz que só soubesse falar sobre coisas… de rapazes. E Alisha era um pouco como as gémeas, mas não era nenhuma sósia, e não era duas.
De repente, a sensação de vazio que começara a crescer ao jantar e que eu tentara reprimir, ampliou-se, e eu desatei a chorar baixinho, deixando a almofada ensopada, e a cara tão pegajosa que tive dificuldade em limpa-la, mais tarde.

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