Abandoned - 4º Capítulo

"Abandoned"
Capítulo 4:Conversa


-Entre!
Entrei.
-Só podias ser tu…
Fiquei admirada com aquilo. Como é que ela sabia que eu lhe ia pedir ajuda? Logo a ela? Tem um sério problema de ego.
-Como é que sabias?
-Prevejo desgraças. –disse ela com um sorriso cínico.
“Pois, está bem cabra” pensei. Se ela previsse verdadeiras desgraças, sabia que ela própria era um desastre social.
-O que é que queres?
-Pelos vistos não prevês desgraças assim tão bem…
-Se me queres pedir ou perguntar alguma coisa, que tal começares por fechar a matraca?
-Afrodite –disse eu com ar serio –Preciso da tua ajuda!
-Para quê? –fazia ar de desdém, mas percebi que se regozijava por dentro.
-Olha, isto não significa que és superior nem nada, estás a ver?
-Desembucha! Tenho coisas para fazer!
“Sim, tipo o quê?” apeteceu-me responder, mas isso só ia atrasar
-Preciso que venhas comigo salvar Stevie Rae.
-A sério? E eu ia fazer isso porque…?
-Porque ambas precisamos da mesma coisa: precisamos de fazer frente a Neferet!
-Eu não preciso de lhe fazer frente!
-Não? Sabes, se ouvisses a tua conversa com ela, sabias que precisavas.
Ela riu-se.
-Não –abanou a cabeça, para dar mais ênfase à sua resposta –TU! Tu precisas de fazer frente a Neferet. Precisas de salvar a tua amiga e fazer o que está certo. Eu preciso de lhe cair outra vez nas boas graças. E os humanos também não importam, a não ser que tenhamos sede.
-Sabes, nunca pensei que fosses tão desumana! Quer dizer, pensa nos teus pais, eles são…
-Os meus pais? Estás a falar nos meus pais? Pois, os meus queridos pais são os seres mais nojentos à face da terra! Eu odeio-os, porque quereria salva-los?
-São teus pais!!
-E depois? Não me peças para arruinar a minha vida para salvar um frigorífico que já devia estar morto!
-Pára de falar como se não importasse! Pára de falar como se os humanos não fossem mais que bifes, como se a morte de um amigo não fosse nada de especial!
-Eu passei por isso! Eu tenho uma amiga morta como a tua já devia estar! Eu passei por isso e por muito mais, e não pude fazer nada! Lá por teres essa marca esquisita e completa, afinidade com os cinco elementos, seres líder das Filhas das Trevas e estares a ser preparada para ser uma sumo-sarcedotista não quer dizer que sejas um super-herói e que tenhas de salvar o mundo! Pensas que és a única a sofrer? Tu tinhas amigos quando a Stevie Rae morreu! Eu só tinha a Vénus! Não precisava de mais ninguém! Não quis ter mais alguém! E quando ela morreu, nem os meus pais me apoiaram! Disseram: “Recompõe-te Afrodite, ou perdes tudo o que já ganhas-te!”. Bah! Para que é que eu queria aquilo? Governar a Casa da Noite quando Vénus não estava lá comigo!
As lágrimas corriam pelos seus olhos, e ela nem se esforçava para as conter –ver Afrodite chorar era como um choque: Não esperava que ela pudesse chorar por alguém!
Subitamente, lembrei-me de uma coisa.
Sabes Afrodite –Falei num tom incisivo, para que ela percebesse que eu não estava a mentir –Vénus não morreu. Ela está meio-viva, como Stevie Rae.
O choque e a alegria tomaram o rosto de Afrodite por um segundo, mas ela substitui-os por uma mascara de desdém.
-Isso não interessa! Aconteceu o que tinha de acontecer! Ela devia morrer! Ela morreu! Não pode ser salva! É isto que tem de acontecer!
Podiam ser choques a mais (e de certeza que são, mas a Afrodite é tão megera que nos choca com cada uma da suas ideias) mas desta vez fui eu que fiquei chocada. Como é que ela podia dizer aquilo?
-Não! Não tem de acontecer, não quando o podemos evitar!
-Tu não percebes! Se estivesses sempre a ter visões percebias! Tu podes evitar que certas coisas aconteçam, ma só daquela vez! A única coisa que ganhas ao interferir no destino é mais tempo para te afeiçoares a essa pessoa, para depois chorares o dobro quando aquilo que estava destinado a acontecer, acontecer realmente!
-Claro Afrodite! Nada no universo é eterno, nem mesmo as pedras sobrevivem ao séculos, nem o sol, nem o próprio universo! A única coisa que podes pedir é mais tempo para desfrutar do mundo! Porque eu sei que um dia vou acabar, e tu vais acabar e tudo há de acabar! No entanto, tu não queres morrer agora só para não teres mais pena de morrer mais tarde!
-Tu não percebes! Enquanto não chegar a minha hora, não tenho de morrer! Mas quando ela chegar, se eu a evitar uma vez, não posso evita-la para sempre!
-Sabes, não acredito que Nyx te tenha dado um dom para te ver sofrer com as visões! Se realmente podes evitar que erros matem, então deves evitar!
-Quando são erros humanos posso e devo! Mas quando a natureza age e leva alguém, então tens de o aceitar! Não podes contrariar a natureza! O que Neferet faz está mal, está errado!
-Então não me queres ajudar?
-Não posso ajudar. Não me cabe a mim faze-lo. Não vou corrigir o erro de Neferet contra a Natureza, cometendo mais um. –a voz era impassível, como se estivesse a comentar que o tempo estava uma merda.
-Adeus Afrodite!
-Não te esqueças de fechar a porta!
Sai e bati com a porta atrás de mim, com toda a força que consegui impingir sem ter de parar para a reunir.
Suspirei. Não conseguia aguentar os disparates de Afrodite!
Desci as escadas para voltar à sala comum. Reparei que toda a gente olhou para mim quando entrei. Mas que raio! Será que alguém tinha ouvido a minha conversa com Afrodite e pensava que eu estava maluca?
-Damien? Porque é que está toda a gente a olhar para mim?
-Zo? –falava como se eu estivesse delirante –Estás bem?
-Claro que estou! Porque é que dizes isso?
-Pois, é que…
-Tu sabes há quanto tempo é que ninguém entra no quarto daquela cabra? Sem ser ela claro! –Interrompeu Shaunee
-Não, eu…
-Zoey, a ultima pessoa que lá pode entrar foi Vénus. Nem as suas consortes lá entravam! –Erik parecia deveras preocupado.
-Não, eu só precisava de…
-Z, o que raio…-disse Erin.
-…É que estás a fazer? –terminou Shaunee.
-Eu… Eu precisava de falar com ela…
-Pois, mas nunca ninguém precisou de falar com ela –Ok, eu nem o conhecia bem, porque raio é que Cole tinha de se meter na conversa?
-Mas…
-Eu não estou aqui à muito tempo, mas tenho a certeza que nunca ninguém lá entrou dentro!
Desta vez foi de mais.
-VOCÊS FAZIAM O FAVOR DE SE CALAR? –sim, eu tinha noção de que toda a gente estava a olhar para mim –NÃO PERCEBEM! NÃO VÃO PERCEBER! SERÁ QUE ALGUM DE VOCÊS VAI CONFIAR EM MIM?
-Como é que queres que confiemos se num dia dizes que ela é uma víbora e no dia a seguir te metes no buraco dela?
-Damien! Eu não fiz isso!
-Não? Sabes… -espicaçou Erin.
-…Não foi o que pareceu! –Continuou Shaunee
-Mas foi o que aconteceu!
-Zo, devias começar a contar as historias todas porque…
-Oh, também tu? –as lágrimas corriam pela minha cara, não pensara que Erik me iria abandonar –Porque raio é que ninguém confia em mim? VOCÊS NUNCA PASSARAM PELO QUE EU PASSEI! NÃO FORAM MARCADOS ASSIM E OBRIGADOS A SER O ALVO DAS CONVERSAS! NÃO TENTARAM LUTAR COM O QUE EU LUTEI E NÃO VIRAM O QUE EU VI! NUNCA PASSARAM POR ISTO, MAS CONTINUAM A PENSAR QUE SOU DOIDA!
E sai disparada da sala comum. Tinha todos os olhos da sala colados em mim e a chuva ensopava a minha roupa, mas isso não interessava. Eu só queria ir para outro sitio, um em que não estivessem…
Os meus antigos amigos!

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