Sétimo Capítulo
Ainda sentia o calor dos seus lábios contra os meus, aquela paixão toda que tinha sentido por breves momentos, até que decidi correr, desaparecer… Não sabia bem ao certo onde estava, mas era um local maravilhoso. A noite ainda agora tinha surgido, e as luzes do parque eram o suficientemente fracas para conseguir sentir a luz da lua a entrar suavemente sobre a minha. Mas não era isso que importava agora, não conseguia relaxar por mais que quisesse. E o meu problema tinha um nome: Kate.
Ela não merecia que eu a obrigasse a fazer parte da minha vida. O que era eu? Um vampyro que simplesmente tinha que seguir uma vampira desconhecida, com a ajuda daquela mulher estranha que lhe aparecera na outra noite, e acabaria por mata-la. Sim, eu acabava por me tornar no fim um assassino, tal como aquela mulher que chacinara a minha família.
Tinham passado tantos séculos e seguíamos os passos dela, procurando algo que nos fizesse chegar-lhe. Recordo-me que nos registos, quase uma vez o conseguiram. Havia a certeza de que ela nessa altura não estaria sozinha, com uma acompanhante que tinha traçado a sua morte, assim nós conseguiríamos encontra-la. Mas tão rapidamente, como se jamais tivessem conseguido encontra-los, desapareceram do mundo como se esfumassem.
Lembro-me das primeiras pistas sobre o paradeiro daqueles dois intrigar a maioria dos caçadores que a procuravam. Era um mar de sangue, repleto de torturas, que iam encontrando pelo caminho em que sabiam que ambos passavam. Nenhuma das suas vítimas sobrevivia, nenhuma delas nos poderia dizer como é que realmente essa mulher divagava pelo mundo.
Eles eram inteligentes demais para se deixarem apanhar por reles caçadores, que encontravam sempre uma ou outra vítima, mas todos sucumbiam à falta de sangue. Naquela altura não precisavam de ter tanto cuidado, com tantas pessoas pobres, com tanto desconhecimento e – principalmente – medo, não havia qualquer forma de determinar o próximo passo que daria.
A única monotonia que conseguimos realmente captar fora a forma como usava as suas presas. As torturas faziam parte da sua marca pelos tempos, apenas aqueles que tinham sucumbido sobre suas mãos saberiam o que tinham sofrido.
O seu desejo pela destruição parecia desumano, e como ela nem humana era, ainda mais justificações dava para que tudo fosse simplesmente julgado como totalmente imperdoável. A morte era pouco para um ser como aquele. E eu sabia disso.
Meus instintos ficaram em alerta, quando uma pulsação breve se fez próxima de mim. Rapidamente captei o seu aroma, sentindo que talvez já o tivesse sentido antes. Aproximei-me consoante as batidas sonoras que meus ouvidos captavam, facilmente segurei o seu pescoço com a minha mão, raptando aquele corpo das sombras e arregalando os olhos ao ver quem era.
- Isto sim… É uma forma engraçada de cumprimentar os humanos. – Gozou Kiya, observando a minha expressão confusa, sorrindo brevemente. – Então, podes largar-me o pescoço para que possamos falar de negócios?
Rapidamente o fiz, deixando-a respirar normalmente. Curioso como o seu coração nem tinha se assustado, estava tão normal quanto a sua expressão. O que viria por aí? Era essa a questão que mais me assustava.
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